Mãos que coletam: um ensaio sobre a coleta seletiva

Mãos que coletam: um ensaio sobre a coleta seletiva

Segundo a pesquisa Ciclosoft, realizada pela organização sem fins lucrativos Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), o serviço de coleta seletiva está presente em apenas 18% do total das cidades brasileiras, ou seja, apenas 1055 municípios do país oferecem este tipo de serviço. Em contraponto, o país produz 260 mil toneladas de resíduos por dia, e só uma pequena parte dessa quantia é reciclada e reutilizada. Em relação à população, apenas 15% (31 milhões) tem acesso a programas de coleta seletiva.

Entre as cidades que realizam e oferecem serviços de reciclagem, 54% realizam a coleta através de cooperativas. As cooperativas, por sua vez, podem ser apoiadas pela prefeitura – estendendo o apoio aos gastos de manutenção, de água, de eletricidade e de transporte, bem como no investimento de programas de educação ambiental. 

Os impactos da coleta seletiva vão além da área ambiental. Muitas pessoas encontram na reciclagem uma forma de trabalho e geração de renda, envolvendo desde os catadores de rua até as cooperativas. Antes, o que era considerado lixo, é visto agora como um material pronto para ser descoberto de inúmeras formas. Surge, então, a oportunidade para recriar, reutilizar e diminuir os danos ambientais. 

Em 2001, na cidade de Votorantim-SP, surgiu a Cooperativa de Reciclagem Coopervot, criada através de uma parceria entre o Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania (CEADEC) e a Prefeitura. Questões como melhorar a qualidade de vida dos catadores de reciclagem e aumentar a geração de renda na comunidade tiveram um papel decisivo na promoção de uma série de discussões sobre o trabalho da coleta seletiva na região. 

Edson Locatelli, um dos fundadores da Coopervot que atualmente trabalha como voluntário,  acredita que o apoio da sociedade é fundamental. “Trinta e cinco (35) colaboradores trabalham na cooperativa. A quantidade de lixo gerada em Votorantim é de 100 toneladas por dia, no entanto, a cooperativa coleta 150 toneladas por mês, representando 10% de todo material [reciclável]”, afirma. Apesar dos grandes esforços da cooperativa e de todos os funcionários, é necessário que haja o reconhecimento da importância da presença da coleta seletiva por parte da comunidade, afim de que os resultados sejam mais eficientes.

O colaborador ainda ressalta a falta de incentivo do governo municipal. “O que falta são políticas públicas voltadas para a questão da coleta seletiva e dos catadores, porque é um serviço extremamente importante, pois diminui a quantidade de lixões e ressalta a importância dos catadores. O impacto positivo é que [o material] deixa de ir para o aterro sanitário, que não é uma forma de armazenamento adequada para o material reciclável.”

O fato de que 85% da população brasileira ainda não tem acesso aos serviços de reciclagem e coleta seletiva, essencial para a preservação do meio ambiente e para a economia local, é suficiente para perceber que há muito que fazer, como reconhecer a importância de reciclar, incentivar a separação de materiais dentro das casas, difundir ações nas escolas e ampliar programas de educação ambiental.

coletiva seletiva web (2 de 22)Colaboradores trabalhando no processo de separação de materiais, na sede da Cooperativa de Reciclagem Votorantim.

coletiva seletiva web (3 de 22)Os cães de guarda acompanham o trabalho dos catadores, durante o processo de separação dos materiais. Votorantim, São Paulo, Brasil. 

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coletiva seletiva web (17 de 22)coletiva seletiva web (18 de 22) coletiva seletiva web (19 de 22)A questão de melhorar a condição de trabalho dos catadores foi abordada durante a criação da cooperativa. O trabalho é intenso e gera grandes impactos na comunidade local.

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Na foto acima, mulher separa os materiais que serão reciclados. A maioria dos trabalhos são feitos manualmente.

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2 comentários

  1. Denise Galli disse:

    Parabéns, Paula. A fotografia é um grande aliado as causas sociais. Seu olhar, dá força e voz a aqueles que muitas vezes são invisíveis.

  2. Danilo Leite Fernandes disse:

    Texto muito informativo. Fotos magníficas. Parabéns, Paula!

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