Escola da Família e uma nova abordagem de educação

Escola da Família e uma nova abordagem de educação

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O Programa Escola da Família, criado em 2003 pela Secretaria de Estado da Educação do Governo de São Paulo, propõe a abertura das escolas da rede estadual aos finais de semana, com o objetivo de contribuir com a inclusão social e aumentar a presença dos jovens e familiares dentro da escola. A organização conta com profissionais da educação, voluntários e universitários, os quais planejam as atividades dentro de quatro eixos: esporte, cultura, saúde e trabalho.

Aparentemente algo simples, porém significativo, a abertura das escolas aos sábados e aos domingos carrega em si algo muito mais profundo – este seria, então, o outro lado do programa. São 16 horas dedicadas por professores e voluntários, com a grande esperança de que os jovens possam ter uma maior perspectiva do espaço escolar. Assim, nasce a possibilidade de reinventar um espaço que é considerado muitas vezes alheio à comunidade.

 

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Às nove horas da manhã, as portas da Escola Estadual Pedro Augusto Rangel, localizada em Votorantim-SP, são abertas. Os jovens e as crianças começam a ocupar o pátio e a escolherem os jogos e as atividades. No meio delas, está a vice-diretora Suely Natalina Bueno da Silva, uma das profissionais que dedicam o final de semana para que os alunos tenham um maior acesso à educação.

Com um brilho nos olhos e um cansaço aparente, vindo de uma luta de vários anos para a melhoria do ensino na região, Suely enxerga nas parcerias e no voluntariado uma forma de abrir oportunidades para quem participa da Escola da Família. “Com mais atividades e oficinas profissionalizantes, a geração de renda na comunidade aumenta”, comenta. A falta de voluntários faz com que o número de atividades diminua, deixando a desejar a variedade de opções disponíveis dentro do ambiente escolar.

Apesar das dificuldades, a educadora universitária voluntária Thaina Ignácio acredita no potencial e nos benefícios do programa, “eu acho o projeto uma coisa muito boa. Quando se fala de educação, não se pode pensar em gastos, temos que pensar em investimentos. Acho que também parte da gente a mudança social, é preciso ter uma boa comunicação com as crianças.”

 

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Voluntária aos domingos, Thaina foi contemplada com o Programa Bolsa Universidade, na qual o estudante recebe uma bolsa integral do curso de ensino superior, e em contrapartida, trabalha como educador na Escola da Família nos finais de semana. Para a estudante de pedagogia, a entrada na Universidade é uma conquista, e se espelha nisso para motivar os outros participantes. “Todos os domingos ali são momentos de aprendizado, e mesmo com [as dificuldades encontradas] esse sistema educacional, que vai se arrastar por mais um longo período, eu acredito nessas crianças. Sei que eu, como uma futura professora, assim como outros colegas meus, temos a função de sermos seres transformadores na vida de crianças e adolescentes. Podemos apresentar algo novo e fazer com que elas acreditem nelas mesmas. Nós, que sempre estudamos na escola pública, somos heróis por vencermos, porque o fato de estarmos estudando em uma universidade é um grande avanço também.”

 

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A voluntária Isadora Bril Biffi dá aulas de inglês na E. E. Jornalista Gavino Virdes, na cidade de Guatapará-SP. A estudante decidiu entrar no P.E.F. para ajudar pessoas que não tinham oportunidade e condições de pagar aulas particulares. “Decidi entrar em contato com a coordenadora do programa para levar adiante o projeto. [A diretora] me explicou como funcionava e que não seria fácil.”

Os “alunos-problemas”, que são conhecidos por terem uma relação conflituosa dentro da sala de aula, apresentam-se ativos e com uma liderança nata nas atividades da Escola da Família. Esse tipo de situação traz à tona muitas outras questões sobre como o nosso sistema educacional abrange e consegue trabalhar com as habilidades e competência dos alunos, de modo que eles desenvolvam plenamente e sejam capacitados – isso volta a implicar na questão do número de voluntários presentes na unidade escolar.  “Por a escola ser aberta a todos, tem um fluxo grande de todo tipo de público, e duas pessoas tomando conta de tudo é muito pouco”, afirma Thaina.

A transformação também acontece com esses alunos, antes despercebidos, mas que agora atuam de modo positivo na educação. “Vejo as crianças evoluindo no idioma e sem faltar às aulas por gostar da dinâmica delas, me esforço para levar coisas diferentes e captar a atenção delas. Até na disciplina das demais crianças, tem melhorado muito com as responsabilidades que confiamos a elas, como ajudar na cozinha, na limpeza, tanto garotos como garotas”, reforça Isadora.

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Para o pai Eduardo Camacho Miranda, que acompanha o filho de 8 anos nas atividades, a participação da família é importante, “acho importante para que eles [os filhos] possam evoluir e tenham contato com coisas boas, futuramente o filho precisará do apoio do pai e da mãe”.

Se educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante – como já dizia Paulo Freire – muitos sentidos foram criados em cada sábado e domingo dedicados a ampliar o horizonte das sementes de hoje, que no futuro, serão os nossos frutos. Na esperança de cada professor e voluntário, e com um olhar curioso de cada jovem acerca do que está por vir, os desafios presentes no sistema educacional brasileiro pede por mais do que já temos em nossa comunidade: pessoas com grande potencial e novas formas de abordar a educação, apenas à espera de uma nova oportunidade para que se fortaleçam.

Desse modo, o Programa Escola da Família torna-se essencial à vida de muitas crianças e adolescentes, e mesmo com poucos recursos disponíveis, existem pessoas dispostas a lutar por uma educação mais democrática, mais digna e mais acessível. A verdadeira transformação vem de interior de cada ser humano que acredita que, com a educação e através dela, podemos construir um mundo e um futuro melhor.

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4 comentários

  1. Arnaldo de Campos disse:

    Muito bom, realmente acredito que deveriam investir mais em ações similares a esta, minha filha trabalhou como monitora no projeto escola da família, porém à pouco tempo houve cortes no orçamento e diminuíram os monitores.

  2. Suely Natalina disse:

    Amei tudo o que escreveu ,você tem um grande potencial jornalístico. Parabéns e obrigada por fazer parte da sua história.

  3. Danilo Leite Fernandes disse:

    Fotos maravilhosas e um texto inspirador. Parabéns!

  4. Diva disse:

    Esse trabalho é digno de todo reconhecimento da sociedade, sabemos que existem crianças e adolescentes que talvez encontrem ali o refúgio para não se contaminar com a podridão que as ruas oferecem…parabéns a todos os profissionais envolvidos e pela belíssima reportagem!

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